top of page

Como é a realidade das famílias nas periferias de São Paulo

  • Foto do escritor: Adriana Lucia da Silva
    Adriana Lucia da Silva
  • 23 de jun.
  • 5 min de leitura

Historicamente os bairros da periferia da cidade de São Paulo foram surgindo de forma desordenadas em áreas de ocupação informal como comunidades e loteamentos.


Esses bairros periféricos foram sendo povoados por migrantes em busca de trabalho, regressos de outras regiões do Brasil. As habitações dessas famílias foram sendo construídas por elas próprias de forma precária e em áreas afastadas do centro, sem planejamento e de alta concentração populacional.

O crescimento desordenado gerou uma série de vulnerabilidades sociais, como a falta de acesso a saúde, educação, moradia digna e saneamento básico. 

PERIFERIA DE SÃO PAULO - Como é a realidade das famílias nas periferias de São Paulo
Como é a realidade das famílias nas periferias de São Paulo

Segundo o último censo de 2022, aproximadamente 15% dos 11,4 milhões de habitantes da cidade de São Paulo vivem em favelas, o que representa cerca de 3,6 milhões de pessoas, considerando favelas e outras comunidades urbanas. Houve um aumento significativo em relação ao último censo, realizado em 2010, evidenciando a ampliação da população em condições de precariedade. Ainda de acordo com os dados, 1.728.265 pessoas vivem em favelas paulistanas, distribuídas em 1.359 territórios.


A população periférica é majoritariamente composta por pessoas pretas e pardas (72%), muitos oriundos do Nordeste e outros imigrantes. Além disso, o nível de escolaridade é baixo, predominando uma população jovem e com menor expectativa de envelhecimento. Outro dado relevante é que grande parte das famílias são chefiadas por mulheres solo, que enfrentam desafios diários para garantir condições dignas de vida a seus filhos.


Enquanto a cidade de São Paulo ostenta o maior PIB do país e é a metrópole mais rica da América Latina, também apresenta um dos custos de vida mais elevados, especialmente no que diz respeito à alimentação, moradia e transporte. Essa disparidade é visível na comparação entre bairros nobres e periféricos: regiões como os Jardins, onde vive a elite paulistana, oferecem imóveis de alto padrão, acesso a serviços de qualidade, educação de excelência e infraestrutura sofisticada. Por outro lado, a periferia sofre com deficiências estruturais, escassez de lazer e altos índices de pobreza, criando um abismo entre esses dois mundos.


A desigualdade na distribuição da riqueza resulta na marginalização de grande parte da população, que permanece desprotegida e sem acesso a condições mínimas de bem-estar. A ausência de políticas públicas eficazes e inclusivas agrava ainda mais esse quadro. Para mitigar essas desigualdades e promover dignidade, organizações sociais como o Social Bom Jesus (SBJ) desempenham um papel fundamental para ascensão dessas famílias. Por meio de iniciativas que recuperam a autonomia cidadã e fortalecem a autoestima da população periférica, essas instituições ajudam a transformar realidades.


Muitas destas famílias são atendidas pelo Serviço de Assistência Social à Família (SASF) que é uma oferta da Proteção Social Básica do SUAS que tem como objetivo fortalecer a função protetiva, prevenindo agravos que possam provocar o rompimento de vínculos familiares e sociais e desenvolver ações junto a idosos e pessoas com deficiência, dadas a necessidade de prevenir confinamento e o isolamento, por meio da proteção social no domicílio. 


A principal porta de acesso do programa é através do CRAS, sua atuação tem como prioridade pessoas com deficiência, idosos e beneficiários de Programas de Transferência de Renda, como o Bolsa Família e BPC.


A ONG Social Bom Jesus possui dois deste Serviço o SASF Jd. Angela II e o SASF Pedreira ambos localizados no extremo da zona sul.


O SASF Pedreira atualmente atende 1.010 famílias, a maioria chefiadas por mulheres pretas e pardas, mães solos e idosos. A renda das famílias provém do Programa de transferência de renda como: o Bolsa Família e BPC, outro meio de sobrevivência vem da ocupação informal,  a maioria como catador de material reciclado.


SASF PEDREIRA Como é a realidade das famílias nas periferias de São Paulo

O SASF Pedreira é o único serviço da Assistência Social na região desde 2021. Nossos atendidos são de alta vulnerabilidade social com demandas diversas como: habitação, desemprego, educação, além dos que passam por vários tipos de violência que atinge tanto crianças e adolescentes como adultos.


Desta forma, o atendimento prioriza o protagonismo, autonomia e respeito as singularidades destas famílias, para que se sintam pertencentes ao bairro são utilizadas como metodologia as reuniões socioeducativas, oficinas de costura criativa e artesanato como um espaço de socialização e convivência, visitas domiciliares e um grupo de mulheres, que foi uma demanda das mulheres atendidas pelo SASF Pedreira, tornando o espaço de troca seguro e confiável no qual são abordados temas de interesse do cotidiano e de vivência.


Também é realizado o Projeto Primeira Infância que desenvolve um trabalho com criança de 0 a 3 anos e gestantes, com o objetivo de fortalecer os vínculos familiares por meio do lúdico, orientações e acolhimento.


Ou seja, o SASF traz como principal objetivo a acolhida a estas famílias, respeito e o direito de viver com dignidade na sociedade como todo. Ao contrário da visão midiática que muitas vezes retrata esses moradores apenas como carentes, há um grande potencial de mudança, impulsionado pela organização comunitária e pela luta por direitos. A periferia resiste e se reinventa, criando redes de apoio e protagonizando transformações sociais que devem ser reconhecidas.


É extremamente importante compreender que as famílias periféricas foram e ainda são fundamentais para a construção da cidade de São Paulo. Para que o desenvolvimento seja justo e acessível, é imprescindível garantir a inclusão social, econômica e cultural dessa população.


SASF PEDREIRA Como é a realidade das famílias nas periferias de São Paulo

Eu classifico São Paulo assim: O Palácio é a sala de visita. A prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos”  (Carolina Maria de Jesus)

Trecho retirado do livro “ Quarto de Despejo: Diário de uma favelada.

Carolina foi moradora de favela, preta, mãe solo e catadora de papel reciclado. Saiu de Minas Gerais e chegou na capital paulista em 1937, época da formação das primeiras favelas em São Paulo. Com ajuda do  jornalista Audálio Dantas, que tinha ido à favela para fazer uma reportagem do bairro, a conheceu e a ajudou a escrever um livro baseado no seu diário. Este livro mudou a vida dela, foi um sucesso de vendas! Saiu da favela, foi morar em um bairro de classe média e lhe rendeu homenagem da Academia Brasileira de Letras. Carolina viveu de 1914-1977.

Enfim, a história de Carolina é verídica e mostra que as pessoas só precisam de oportunidade e reconhecimento.



Por: Adriana Lucia da Silva

 Adriana, mulher preta, mãe solo e moradora da periferia de São Paulo e que ama conhecer pessoas e suas histórias. Pedagoga de formação e pós graduada em História e Cultura Indígena e Afro Brasileira. Trabalha na Assistência Social desde 2006. Faz parte do Social Bom Jesus há 10 anos, iniciou no extinto Circo Escola como coordenadora pedagógica, passou pelo SASF Jd Ângela II como técnica pedagoga e atualmente é gerente do Sasf Pedreira, que ela descreve como uma honra!


 
 
 

8 Comments


Patrícia Cruz
Patrícia Cruz
Jun 27

Parabéns! 💝

Arrasou na matéria 😘

Like

Patrícia Cruz
Patrícia Cruz
Jun 27

Sua escrita esclarece a termos compreensão mais profunda do assunto e identificarmos os potencias e vulnerabilidades periféricas e social.

Obrigada Dri pela matéria enriquecedora do nosso serviço e das famílias atendidas.

Like

Julia Dantas
Julia Dantas
Jun 27

A população periférica tem tantas riquezas e potenciais, sem a possibilidade de se enxergar potente, o trabalho dos SASF e do SBJ, oferta espaço para essa potência se fazer viva. Obrigada Dri pelo texto rico

Like

AdiLsOn LuCio
AdiLsOn LuCio
Jun 27

Parabéns pelo desenvolvimento desse projeto, excelente matéria.

Espero que futuramente possamos ter mais SASF como esses , a periferia agradece 👏🏿👏🏿👏🏿

Like

João Lucas
João Lucas
Jun 27

orgulho da minha mãezona ❤️

Like
bottom of page